quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Tédio

Hoje o tédio me consumiu.

As mesmas pessoas, os mesmos afazeres, o mesmo caminho do trabalho, o mesmo caminho para a cama. As mesmas coisas na tv, as mesmas árvores na rua, os mesmos hábitos dos pais, os mesmos hábitos do país.

Não vejo outra saída de mudança, a não ser pela minha porta.

Preciso ouvir mais Gandhi e entender que preciso ser a mudança que quero ver.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Tigre meu!

Eu já te conhecia, mas ainda não sabia de tudo
Via o pelo, os dentes, a raiva e o rancor mudo
Mas ainda não reconhecia teu verdadeiro eu

O carinho, a proteção, a coragem estavam ai
A voracidade em me devorar também estavam quando eu cai
Cai e me perdi de amor num paraíso sem fim

As lambidas que dizem que o amor não é miúdo
E o cuidado em tocar, quase como um veludo
Confundiam a instinto animal que era seu

Mas olhei pra nosso céu, na madeira do teto daí
Vi orelhas, patas e garras, e então senti
O Tigre veio da Savana completar tudo que faltava em mim



Ensaio sobre o ciúme

Certa vez ouvi uma música recente do Caetano que diz: O ciúme é o estrume do amor. Fiquei bastante impactada, uma vez que sou da linha de Vinicius de Moraes, quando ele diz que "O ciúme é o perfume do amor". Ainda não sei se meu ciúme cheira bosta de cavalo ou perfume francês, mas que ele cheira, ahh isso cheira! Ele tem consistência, ele não é abstrato, ele é quase palpável! E o complicado disso tudo, é que ele ganhou corpo agora, há pouco. Não que não houvesse. Havia. Há. Mas, na verdade, me parece que ele se mostrou por inteiro agora.

Cheguei a pensar que era uma regressão, que estava dando mil passos pra trás ao adquirir, ou melhor, ao assumir essa faceta tão ciumenta. Eu tinha uma aversão a crises de ciúme quando via de fora. Achava de uma falta de senso de ridículo mulheres ou homens dando aquele piti por isso. Achava-me a elegância em pessoa em demonstrar meu ciume, se houvesse, de forma discreta, entre quatro paredes, conversando, dialogando, sem barraco nem chororô.

Hoje em dia, sou uma traíra de mim mesma! Ao menor olhar pro lado já não consigo disfarçar. O sangue sobe, eu fico quente e inquieta. Sinto ódio, raiva e rancor em apenas um minuto de situação. Ai depois vem a insegurança e a falta de auto-confiança. No próximo instante vomito absurdos, reclamo, aponto, choro. Corrijo-me, aliás. Esta última parte continua sendo entre quatro paredes. Elegância ainda me resta.

Entrei num conflito interno muito grande ao repulsar e incorporar o ciume ao mesmo tempo. É estranho senti-lo. Num exercício de auto-análise fico buscando suas causas. Não tenho vocação para soberba, mas convenhamos que não me trato de uma pessoa desprezível. Acredito na minha inteligência e cultura (aliás, busquei por elas durante todos estes quase 25 anos), sei que as possuo. Tenho bom humor e bom gosto cultural. Amo amar, sou fiel aos amigos e aos amores e gosto de ouvir. E, ah, sou jeitosa, vai? Tenho mil defeitos, mas nenhum tão gritante assim que possa causar tamanha insegurança.

 O que será? O que pode ser? Hum....bingo! O ego, a posse e o apego. A tríplice aliança do manual dos ciumentos profissionais. Ok. Depois de identificado o problema, como resolver? Como arrancar de mim estes sentimentos tão inerentes ao ser humano? Ou então, o que me causa uma dúvida maior, como eles não estavam aqui tão latentes antes?

Volto ao começo ao dizer: Eles sempre existiram, mas só despertaram agora. Talvez seja o amor atual ou eu mesma atualmente ou a situação atual ou...sei lá! Mas ele apareceu. Um monstrinho fedendo cocô. E agora? Ele precisa parar de ser alimentado até morrer de inanição? Não. Ele somente precisa ser controlado, tranquilizado, despertado na hora certa.

Yoga, umbanda, centro espírita, boxe, chocolate, masturbação, filmes do Tarantino, livros do Veríssimo, enfiar a cara no trabalho, me olhar no espelho e dizer "você é gostosa demais pra ser insegura". Uma dessas coisas ou, todas elas juntas, podem ajudar.

Versinhos para Ana

Mana!

Companheira das rezas na arque diocesana
Até os tombos, após os porres da cana!

To do teu lado nas viagens a paisagem urbana,
Nas histórias praianas e havaianas
E até nas aventuras na savana africana!

Pra te defender, 
enfrento as guerras napolitanas,
os monstros com barbatana
e todas as caravanas.

Desculpe se fui sacana
Ao tentar poetizar teu nome simples e bacana
Mas só assim entendi que as rimas lindas e sem gana
todas terminam com "Ana".

Te amo!

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Machismo mata!

O machismo me mata toda vez que minha saia curta, minha calça justa e meu batom vermelho me transformam num baquete para porcos.

O machismo me mata toda vez que não posso andar sozinha. Nem de noite, nem de dia.

O machismo me mata quando um país miscigenado e multicultural não me permite ser gorda, encaracolada, negra ou lésbica

O machismo me mata a cada Feliciano, Bolsonaro e Ali Kamel que surgem com seus discípulos

O machismo me mata toda vez que sou vadia só porque sou livre

O machismo me mata toda vez que me calo há uma agressão.

O machismo me mata quando eu não posso tomar cerveja, falar palavrão ou dirigir caminhão.

O machismo me mata toda vez que o meu salário é sempre menor do que o deles.

O machismo me mata quando não tenho direito ao meu próprio corpo.

O machismo me mata quando eles preferem me ver morrer do que abortar segura.



O machismo me mata quando alguém se acha no direito de espancar uma prostituta.

O machismo me mata porque a saúde não é pra mim, a educação tão pouco e a segurança menos ainda.

O machismo me incomoda e me sufoca. 

O machismo me mata, pouco a pouco, todos os dias. 

O machismo me mata e como me mata e é por isso e por muito mais que da luta não me retiro.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Nada tranquiliza


Nem fazer yoga, nem gargalhar com cócegas, nem ser o bilionário da mega
Nem anestesia geral, nem ter a paciência dos monges do Nepal, nem encontrar a cura do mal
Nem a barriga cheia, heroína na veia ou extinção da agonia.

Nada tranquiliza uma consciência pesada, cheia de mágoas e com remorso de dor.

terça-feira, 19 de março de 2013

A vida real

A vida real é pior que o naufrágio do Titanic, a fúria de Afrodite, rinite ou tendinite.
A vida real é pior que as cenas do Exorcista, que ataque Bolchevista, queda de alpinista e cisco na vista.
A vida real dói, corrói, destrói, mas depois de tudo, te faz herói.